segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

As if by magic...

Como toda pessoa normal (pelo menos atualmente falando), me sinto tentada por dois tipos de apelo obsessivo: Um, óbvio, trata-se das maravilhas da tecnologia avançada e suas inúmeras possibilidades (por muitos não confessáveis; até por que eu também de vez em quando as tenho e as taxo de fúteis e inúteis): barriga, peeling, creme nem sei das quantas, lipoaspiração, etc; e o outro inferno é a necessidade de estarmos praticamente todo o tempo de nosso cotidiano conectados para acompanhar a velocidade desse avanço das comunicações. E aí a coisa pega! E como pega! Com essa mísera memória que temos, principalmente as defasadas pelos percalços da vida ou pelo tempo, é quase impossível acompanhar essa tal de memória RAM. Sempre me frustro, pois nunca consigo alcançá-la, aliás, adoraria se por um efeito de mágica ou mais uma evolução futurística ela se tornasse extinção. Quando atinjo tantos megabytes já são necessários gigabytes, isso sem citar os megahertz, outro padrão para não me deixar esquecer que estou atrasada, ou seja, ‘analfabytes’.
Ambos tem em comum o fato de estarem sempre em demanda contínua, não tem essa coisa de estagnação. Um apelo estético sempre tem que ser retocado; sabedoras de carteirinha as usuárias do botox; assim como os personais que a cada dia inventam um novo e preventivo, estes vão desde os ‘trainers’ (estou precisando de um)que contratam-se até para caminhadas. Será que não sabemos mais sozinhos andar? Se estendem aos ‘stilists’ e até ‘sexs’ (É...tem também!), daqui uns dias vão inventar um para a solidão, o amor ou a falta dele, a intimidade com o outro e seus encantos, que vão se perdendo com tanta ditadura e imposição de novidades as quais, de certa forma, somos obrigados a seguir. Tenho dois filhos e um esposo que são minha vida, mas não posso me descuidar dessas pessoinhas, pois corro o risco de perdê-los para o celular, mp3 ou 4, pc, notebook, play station, etc, etc, o marido, mais defasado que eu digitalmente falando, para o ‘jogo de paciência’. Dificilmente se acha tempo para um diálogo, pois estão sempre plugados, ou seria ON? A necessidade da interação e da compatibilidade se instala, pois até nós nos vemos mais preocupados e somos mais eficientes com o carregador do celular, com os meios fascinantes aos quais nos viciam e escolhemos nos comunicar. Isso é altamente periculoso! Temos que nos dominar, literalmente nos vigiar, senão a febre deles passa prá nós (acho que já passou!). Daí vem nutricionistas, massagistas, dermatologistas e a lista vai por ai afora.
É inimaginável viver sem ter que usufruir ou lidar em algum momento de tais recursos: estéticos e impossivelmente, os tecnológicos em se tratando de seus bytes e sua pomposa necessidade em quaisquer áreas que possamos imaginar.
A luta nessa corrida contra e/ou tentando acompanhar o tempo e suas transformações, seja na tecnologia ou na preservação e perfeição da carne, a qual está quase sendo uma exigência dessa geração, percebo que a aceleração externa antecipa esse próprio tempo. Tem-se a impressão que estamos nos tornando máquinas em ‘merchandising ou marketing’: compro hoje o que vai subir amanhã; puxo hoje o que dizem poder cair amanhã. A exigente lei da tecnologia versus a insustentável e imperdoável lei da gravidade. O desconforto e insatisfação observadas nessas duas vertentes, fez me fantasiar, delirar sobre uma solução plausível e compatível entre as duas com todas as maravilhas do progresso com suas facilidades uniformes para todo ser vivente, independente se estes nascerem na geração digital ou na época da carochinha. DECIDIDO! Desejo com todas as minhas forças um ‘upgrade’ (não disse!). Hilárias perguntas irão se formar, claro: Com que médico você vai fazer? Onde? Quando? Mas já tenho respostas para essas e todas as outras que virão. Quero urgentemente um neurocirurgião. Surpreendente? Não. Quero uma recauchutagem não propriamente nas pálpebras, peitos, bunda, barriga ou coisas do gênero; esses ainda agüentam bem alguns aninhos. Quero apenas uma expansão ilimitada e definitiva em minha própria memória RAM; um ‘upgrade’ no ‘meu hardware’. Isso seria espetacular! Recuperaria meus arquivos recentes e danificados, acumularia mais em minha memória programada e logo após obteria espaço para todos os registros, todas as lembranças e experiências já vividas que eu desejasse preservar em qualidade digital. Maravilhoso não? E o que eu desejasse esquecer, apenas deletaria, sem correr o risco de voltar a minha mente. POW e acabou! Demaaais! Guardaria como uma imagem digitalizada o primeiro encontro com meu amor, o nascimento de meus filhos. Poder contar e contar TODAS as gracinhas deles, até as mais sem graça; aquelas que apenas os pais acham lindo; sem ocultar nenhum detalhe de cada momento. Não perderia um que fosse cada acontecimento, cada alegria, cada magia que os mesmos proporcionaram. Meu ‘hard disc’ poderia ter uma biblioteca digital e poderia acessar a qualquer momento tudo que já li e amei: desde Monteiro Lobato a Clarice Lispector, Jorge Amado, Lia Luft (escritora contemporênea que amooo), Goethe, Marx, Nietzsche, Maquiavel, Darwin e todos os outros (isso, se Gordon Bell já não tivesse se antecipado e concluído alguns desses, que pra mim seriam apenas devaneios). De coisas fúteis e inúteis a fatos e fotos relevantes; de fórmulas matemáticas a receitas de doce de minha avó... Mas não pararia por aí: gravaria todos os desenhos animados, novelas e filmes que inúmeras vezes vi comendo pipoca em frente à televisão. Gravaria músicas de novelas, de festas, das fossas (Isso hoje chega ser cômico se não fosse real na vida de todos, principalmente em se tratando da adolescência; os amores platônicos sabe?) e todas as cenas de beijo que foram embaladas por elas. Os arquivos seriam registrados com todos os sentidos, com direito a cheiro e paladar. Apenas um clique no ícone certo acionaria até mesmo um tesãozinho. As lembranças seriam arquivadas em pastas de acordo com cada assunto; classificados pela qualidade e natureza de sentimento, idade, importância e fases da vida. Dessa forma qualquer possibilidade de tristeza, desânimo e depressão seria anulada pela recuperação instantânea de cada momento de prazer. E o anti-vírus? Todos e quaisquer aborrecimentos, maldades, provocações, insultos e fofocas indesejáveis seriam automaticamente barrados pelo fantástico sistema de rede, e simultânea e imediatamente retornados aos seus respectivos remetentes. Perdas de tempo, implicações aleatórias e involuntárias, burrices e toda burocracia não teriam acesso a esse sistema; este mesmo anti-vírus teria a função de apagá-los, antes mesmo de chegar aos nossos olhos, assim também como apagaria todas as mágoas, limparia todos ressentimentos, faxinaria almas (assim como aquele delete que extirpa todo sentimento ruim da mente) e até enviaria um comando para o verdadeiro perdão.
Mas o melhor mesmo seria uma placa instalada para ser usada em processo contínuo de redigitalização da própria mente e imagem (essa mesma que muitos insatisfeitos não teem a ousadia de assumir) assim por muitos e muitos anos se permaneceria satisfeitos com as marcas do tempo surgindo em todos os aspectos em nosso corpo, e nos livraríamos de todos os “istas”, desde o famigerado técnico de informática até o neurologista( Não aquele neurocirurgião do início) que nos daria garantias eternas. No entanto, com tantos sonhos borbulhando por aqui, conheço pessoas que em seus oitenta e alguns ou muitos anos, nunca entraram na faca, não conhecem nenhum técnico de informática e jamais ouviram falar sobre qual a função de um especialista em neurologia ou qualquer ‘ista’. Mas confesso, tenho um tremendo desejo de me aprofundar mais em suas vidas e descobrir onde arranjaram uma fabulosa memória RAM. Será que buscaram do outro lado do mundo? Será que viveram tão simplesmente seu tempo cronológico desapercebidos e ignorando esse novo que muitas vezes nos pressiona em demasia? Ou simplesmente se absteram de viver as pressões da era da informática e vida moderna? Fica a indagação. Ao final, somos todos produtos, resultados perfeitos dessa mesma inteligência que descobriu a tal memória RAM, por que assim nos permitimos.
Ainda assim, pode até ser utópico, mas... EU QUERO A MINHAAAAAAAAA!
By Cris

Um comentário:

Unknown disse...

pena as coisa triste ficarem na nossa memoria e nao temos um anti vírus apague essas memorias assim nao teriamos sofrimento